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sábado, 23 de abril de 2016
Imagem de jovens jogando próximo a corpos de vítimas de queda da ciclovia causa perplexidade
RIO - Dezenas de pessoas estavam ao redor dos dois corpos estendidos na areia de São Conrado. Havia um silêncio respeitoso enquanto a viúva do engenheiro Eduardo Marinho se despedia do marido, com a cabeça ensanguentada e o peito rasgado pelo embate nas pedras. Alguns choravam diante do inesperado, naquele feriado de sol no Rio que deveria ser de alegria. Com o passar dos minutos, a cena se tornou bizarra: garotos tiravam selfies em frente aos corpos, e uma roda de altinho logo se formou. Quem chegava à praia estendia cadeiras e guarda-sóis ao redor das duas vítimas. Foram três horas assim, com os corpos cobertos por cangas de praia.
— A gente é egoísta. Não sente a dor que não é nossa. Isso me deixa muito triste, é o egoísmo do homem — opina Ana Lúcia Jesus da Silva, de 34 anos, funcionária do quiosque Bendita Onda, em frente ao início da ciclovia que atravessa a Avenida Niemeyer e a uma curta distância do local de desabamento.
No dia seguinte ao desastre que matou, até o momento, duas pessoas, o mar ainda batia com força na estrutura que não resistiu à ressaca de quinta-feira, produzindo estrondo e temor. A cada onda, o chão naquele trecho do calçadão tremia, embora menos do que na véspera. Muitas pessoas voltaram ao palco da tragédia tentando entender o que se passara. Para algumas, a imagem da roda de futebol ao redor das vítimas só não foi mais chocante do que o desastre em si.
— Isso não é normal. Parece que estamos perdendo a sensibilidade. Tudo é banalizado hoje em dia, até a morte — afirma o médico aposentado Alexander Magalhães, morador de São Conrado.
Os corpos ficaram tanto tempo na areia, debaixo do sol quente, que a maré subiu até alcançá-los. As ondas levavam os cadáveres de um lado para o outro, enquanto curiosos paravam para registrar o momento e publicar nas redes sociais. O estudante Carlos Henrique Pereira, de 16 anos, praticante de bodyboard, foi à praia nos dois dias para aproveitar as ondas grandes. Mal viu os corpos no chão.
— Não parei para ficar olhando. Não gosto dessas coisas, tenho medo de gente morta. Só quero que os culpados sejam punidos — disse o garoto, com um grupo de amigos que lamentava ter “perdido a bagunça” da véspera.
O antropólogo Roberto DaMatta vê essa indiferença como uma questão filosófica. Para ele, é o “acaso numa cidade com milhões de testemunhas”.
— Todas querem testemunhar, por isso o mundo inteiro fica sabendo minutos depois. A menos que se tenha uma proporção que vá além de um limite difícil de estabelecer, como a queda das torres gêmeas em Nova York — afirma.
Para a psicóloga Cecília Rezende, fundadora e sócia do Instituto Entrelaços, que oferece atendimento a pessoas em luto, banalizar uma cena como essa é fugir do que é incômodo: por isso fingimos não ver.
— É um jeito de não olharmos para a morte de frente. Aquilo nos consterna, mas, dois minutos depois, a vida segue. Não conseguimos reverenciar a morte. Mas uma pergunta que eu me faço é: aqueles que estavam jogando bola, minutos depois da tragédia, já viram quantos outros corpos antes? — indaga.
Morador da Rocinha, o adolescente Henrique de Souza, de 17 anos, já perdeu a conta. O último cadáver que ele viu foi no ano passado: um amigo de escola morto no tráfico de drogas. Um corpo no chão não lhe diz muito, confessa:
— Não vim à praia na quinta, mas não teria ficado assustado — diz o garoto, com o skate embaixo do braço. — Quem é da favela já viveu muita coisa.
O Globo
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